segunda-feira, 30 de junho de 2014

O ALCOOLISMO e a Filosofia


Uma coisa pouco falada é o problema da bebida alcoólica na sociedade; isso não é apenas na escola, mas em todos os setores do convívio humano. Mas o álcool é um problema filosófico ou não? Pelo menos, o álcool deve ser tratado como problema social, uma droga com tanto potencial destrutivo quanto o cigarro e as drogas ilícitas.

Mas como fazer isso, se a bebida alcoólica é associada com festa, alegria e beleza?

Em minhas aulas, é aqui que entra a declaração de Gilles Deleuze, na sua entrevista intitulada Abecedário de Deleuze, de 1988.

 

“Tudo bem beber, se drogar, pode-se fazer tudo o que se quer, desde que isso não o impeça de trabalhar, se for um excitante é normal oferecer algo de seu corpo em sacrifício. Beber, se drogar são atitudes bem sacrificais. Oferece-se o corpo em sacrifício. Por quê? Porque há algo forte demais, que não se poderia suportar sem o álcool. A questão não é suportar o álcool, é, talvez, o que se acredita ver, sentir, pensar, e isso faz com que, para poder suportar, para poder controlar o que se acredita ver, sentir, pensar, se precise de uma ajuda: álcool, droga, etc.”

 

O primeiro passo para colocar essa entrevista em discussão é determinar com o grupo que a bebida alcoólica não é maligna. Ela tem malefícios, mas não é maligna. A pessoa que bebe álcool não se torna má. Ela tem o álcool como um estimulante, e neste sentido Deleuze impõe a responsabilidade de bebê-la no usuário.

 

“A fronteira é muito simples. Beber, se drogar, tudo isso parece tornar quase possível algo forte demais, mesmo se se deve pagar depois, sabe-se, mas em todo caso, está ligado a isto, trabalhar, trabalhar. E é evidente que quando tudo se inverte, e que beber impede de trabalhar, e a droga se torna uma maneira de não trabalhar, é o perigo absoluto, não tem mais interesse, e, ao mesmo tempo, percebe-se, cada vez mais, que quando se pensava que o álcool ou a droga eram necessários, eles não são necessários.”

 

A bebida é tratada como suporte à pessoa, e se ela não nos impede de trabalhar, ela pode ser consumida sem maiores problemas. Aqui, faço uma resalva. O conceito ‘trabalho’ para Deleuze é entendido na mesma via de Marx: trabalho é todo o fazer humano.

 

“Talvez se deva passar por isso, para perceber que tudo o que se pensou fazer graças a eles podia-se fazer sem eles. (...) Eu tenho menos mérito, porque parei de beber por razões de respiração, de saúde, etc., mas é evidente que se deve parar ou se privar disso. A única justificação possível é se isso ajuda o trabalho. Mesmo se se deve pagar fisicamente depois. Quanto mais se avança, mais a gente diz a si mesmo que não ajuda o trabalho...”

 

O pensador reconhece sua fraqueza para com a bebida alcoólica.

 

(...) Eu tive a sensação de que isso me ajudava a fazer conceitos, é estranho, a fazer conceitos filosóficos. Ajudava, depois percebi que já não ajudava, que me punha em perigo, não tinha vontade de trabalhar se bebesse. Então se deve parar. É simples.

 

A responsabilidade pela bebida está na pessoa, mas é aqui que coloco em discussão a visão de nossa sociedade em relação ao álcool. Por que tratamos como normal uma pessoa largada na ‘sarjeta’, totalmente alcoolizada, e vimos com desconfiança um grupo de pessoas que usam da maconha em vias publicas?

 

“Novo estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), feito com 7 mil famílias em 108 cidades do Brasil, comprova que o álcool funciona como "combustível" da violência doméstica. Nas entrevistas feitas durante um ano, os pesquisadores identificaram que em quase metade das agressões que acontecem dentro de casa (49,8%) o autor das surras estava embriagado. A relação entre bebida alcoólica e maus-tratos já era considerada pelos especialistas, mas a evidência científica foi comprovada nacionalmente só com o ensaio científico.”


 

O álcool é o principal combustível da violência domestica no Brasil. O objetivo principal deste trabalho é discutir com o aluno essa visão apaziguada do alcoólatra na sociedade. A bebida alcoólica é vendida tranquilamente para nossos jovens, em qualquer supermercado. Esse pré-julgamento de que a bebida não faz mal para a nossa sociedade está vinculada a que setor ou grupo empresarial? A quem beneficia acobertar os malefícios do álcool para a mídia?

 

Observação: os Slides usados em aula estão disponíveis na pasta do 4Shared.

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