O anime Death Note foi
produzido em 2006, pelo estúdio MadHouse, em cima do mangá escrito por Marsh. A
história gira em torno de um caderno com a estranha capacidade de matar
qualquer pessoa, sendo que o seu nome seja escrito nele. O caderno é encontrado
por um estudante japonês chamado Light Yagami, que tem a estranha pretensão de
matar criminosos para fazer uma justiça que conduza a sociedade para um caminho
melhor.
Diferente dele aparece o
investigador especial que se intitula unicamente de “L”. Sua visão de justiça
se contrapõe de Light, pois para ele a justiça só está presente na lei do estado.
“L” se torna o antagonista do Light, aquele que devota sua vida a encontrar o
justiceiro ‘KIRA’, assim denominado pela sociedade que defende esses ideais.
Light é Kira, e esse justiceiro deve ser levado à verdadeira justiça, segundo
L.
Toda a história do anime
poderia ser trabalhado nas aulas de filosofia, mas principalmente os temas
envolvendo Ética. Aqui, descreverei um pouco o conceito de justiça, e onde ele
se aplica nos personagens, seguindo dois grandes pensadores: Nicoló di Bernardo
dei Machiavelli, ou Nicolau Maquiavel, e Thomas Hobbes de Malmesbury.
Em uma passagem do livro
‘Príncipe’, Maquiavel coloca a seguinte inscrição em latim: iustum enim est bellum quibus necessarium et
pia arma ubi nulla nisi in armis spes est. (cáp. XXVI)Usando a ajuda do
Google Tradutor, temos o seguinte: ‘pois a batalha é
apenas quando ela é forçada sobre nós; braços onde não há esperança, exceto nos braços’. Não dá pra entender direito ainda através desta frase.
Mas, vejamos uma outra frase que poderá dar
mais sentido ao pensamento maquiavélico: (...)
Um Príncipe não deve, pois, temer a má fama de cruel, desde que por ela
mantenha seus súditos unidos e leais, pois que, com mui poucos exemplos, ele
será mais piedoso do que aqueles que, por excessiva piedade, deixam acontecer
as desordens das quais resultam assassínios ou rapinagens: porque esses
costumam prejudicar a comunidade inteira, enquanto aquelas execuções que emanam
do príncipe atingem apenas um individuo. (cáp. XVII)
Maquiavel tem em mente a força da justiça
amparada em braços de um príncipe poderoso. É exatamente o pensamento de Light,
que se considera o novo ‘deus’ deste novo ‘mundo’, o mais poderoso ser da terra.
Light é um pretenso governante maquiavélico.
Já o personagem ‘L’ se contrapõe ao futuro deus.
Sua busca é de levar Kira à justiça humana. Essa justiça se fundamenta em leis
produzidas pelo grupo social. O que nos leva a outro grande filósofo político.
Thomas Hobbes.
A
justiça hobbessiana pode ser descrita com o seguinte fragmento do Leviatã: “(...) Portanto
a justiça, isto é, o cumprimento dos pactos, é uma regra da razão, pela qual
somos proibidos de fazer todas as coisas que destroem a nossa vida, e por
conseguinte é uma lei de natureza.” (Cáp. XV). Bem, isso não se contrapõe ao ato de Light, pois
ele não arrisca sua vida.
Creio
que teremos que ver outros fragmentos.
O
pacto é uma maneira de manter os homens ligados pelo poder da palavra. E “(...) a natureza da justiça consiste no
cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a
instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-los, e
é também só aí que começa a haver propriedade.” (Cáp. XV).
Esta
instituição é o poder do estado, o poder civil que é criado com a liberação de
direitos naturais de cada ser humano para a vivência em sociedade, e o estado
faz um pacto com cada ‘cidadão’ de manter a paz.
O
estado define leis, e “(...) o roubo e a
violência são injúrias feitas à pessoa do Estado” (Cáp. XV). É neste sentido
que o estado pode punir. Com isso, ‘L’ tem o dever de manter esse pacto das
leis, mandando o assassino serial a verdadeira justiça.
O
anime passa por esta relação de justiças em um embate, pois nos colocamos ora
em favor de Light e sua mudança social, e ora na busca de ‘L’ pela captura de
Kira. A ideia de justiça em Maquiavel e Hobbes é apenas o pontapé inicial de
discussão filosófica que esse anime proporciona. Muitas outras discussões
poderão ser feitas, basta apenas deixar-se guiar na história.