segunda-feira, 26 de maio de 2014

UM MaLUCo no CAMPO Filosófico


Raul Seixas é um musico brasileiro que teve seu auge no final dos anos 60 até meados dos anos 80. Um crítico ferrenho da vivência social humana, Raul Seixas criou musicas que tocavam a alma dos ouvintes. Várias delas pode ser material didático de filosofia em diferentes áreas, desde a ética até a hermenêutica. Mas, uma em especial me chamou atenção: Gospel.

A letra desta musica é composta de perguntas, sendo que nunca é apresentada alguma resposta. Na época de sua divulgação, a censura brasileira vetou varias partes, e isso fez que Raul a reescrevesse, dando origem a musica ‘POR QUE’. Mas ‘Gospel’ é uma musica que em sua letra é estritamente filosófica, sendo que podemos fazer um trabalho diretamente para com o aluno. Essa é a letra:

Gospel
Raul Seixas

"Por que que o sol nasceu de novo e não amanheceu?
Por que que tanta honestidade no espaço se perdeu?
Por que que Cristo não desceu lá do céu e o veneno só tem gosto de mel?
Por que que a água não matou a sede de quem bebeu?
 
Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho caneta e não consigo escrever? (escrever)
 
Por que que existem as canções e ninguém quer cantar?
Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?
Por que que aquele que você quer tão bem já tem sempre ao seu lado outro alguém?
Por que que eu gasto tempo sempre, sempre a perguntar? (perguntar)"

 Uma coisa que foi feita em aula foi responder as questões propostas por Raul. Cada aluno escreveu a letra em seu caderno e ia respondendo elas com sua forma de entendimento. Nisso, saiu umas respostas extraordinárias. Gostei muito da leitura dos textos deles. A parte boa desta prática é a imaginação dos alunos. Ser professor é uma coisa surpreendente, e os alunos nos surpreendem a cada momento.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

MUSICA e o Ambiente Filosófico


A música, assim como o filme, tem a mesma magia de tomar o ser para outro mundo. Mas com uma diferença. Ela não mostra um mundo, ela faz o mundo ser sentido por nós. Quantas pessoas ficam estáticas ao som de uma melodia que as remete ao passado?

O pensador Theodor Adorno realizou grandes estudos envolvendo essa forma de arte, e incentivava seu uso para a instrução do individuo. Como professores, podemos buscar essa arte como meio para a filosofia se manifestar nos sentidos. Não digo que devemos pensar como Adorno, que fazia elogio apenas para a música erudita, e menosprezava os outros estilos, dizendo que era uma produção da indústria cultural para manter o controle sobre a população. Toda a música pode ser usada em sala de aula, pois toda a música é uma forma de sentir, toda a música é uma arte. Citando Adorno, poderemos compreender perfeitamente o sentido da música.

 

(...) a música constitui, ao mesmo tempo, a manifestação imediata do instinto humano e a instância própria para o seu apaziguamento. Ela desperta a dança das deusas, ressoa da flauta encantadora de Pã, brotando ao mesmo tempo da lira de Orfeu, em torno da qual se congregam saciadas as diversas formas do instinto humano. (ADORNO, 1983, pág. 165)

 

O professor poderá usar desta arte para colocar seus alunos em contato com o seu ser, seus instintos, assim como tocar o outro representado na música. Fica claro o poder libertador que tem a música em nosso consciente, e isso pode ser uma nova forma fenomenológica de ensinar a filosofia. Com uma letra de Chico Buarque de Holanda, como a música “Filosofia”, temos a chance de entrar na mente do autor, vivenciar seus medos, e através dela, também ver a história da época em que foi criada.

A música também é uma aliada do ensino, e assim como a arte, que a engloba, poderá tornar o jovem um sujeito conhecedor desta disciplina, uma disciplina que agora busca seu lugar no ensino, ao qual todos aqueles que a buscam não ficam incólume. Uma outra idéia é buscar o dialogo entre todos os alunos através das músicas. Colocar o gosto musical perante o grupo, assim como poderemos fazer com a literatura, será de ajuda para a abertura de um dialogo sobre o julgamento do gosto. A obra Crítica do Juízo, de Immanuel Kant poderá ser aplicada junto com os alunos como uma linha mestra das discussões, tornado este estudo parte de suas vivências. Também poderemos usar as obras da escola de Frankfurt, chegando a uma concepção do estético em comunhão com os alunos. Assim, vislumbraremos a miscigenação que a música cria na sociedade, assim como a separação que ela implica. Os problemas causados com a música no processo da vivência, onde o outro é o diferente, termina por criar barreiras entre os homens.

A música como forma de tocar os sentidos, é uma forma fenomenológica de atingir o conhecimento, mostrando um sujeito participante deste saber.

 

(...) Todo o saber se instala nos horizontes abertos pela percepção. (...) O sujeito da percepção permanecerá ignorado enquanto não soubermos evitar a alternativa do natural e do naturante da sensação como estado de consciência e como consciência de um estado, da existência em si e da existência para si. Retomemos pois à sensação e olhemo-la de tão perto que ela nos ensine a relação viva daquele que percebe com seu corpo e com o mundo. (MERLEAU-PONTY, 1971, pág. 214-215)

 

Esta aura que é percebida nas artes faz com que toquemos nosso ser. Amadeus Mozart procurava, com sua obra musical, atingir o divino. Ele é considerado o quinto Evangelista, pelo poder que suas músicas tem de nos tomar para a visão de Deus. Esta forma de atingir os sentidos pela música também mostra o poder que o corpo tem de atingir o conhecimento. Platão bem sabia do poder da música para a alma. Junto a ele, poderemos colocar Aristóteles, Hegel, Nietzsche, Schopennhauer, Adorno, e vários outros grandes ícones da filosofia para que juntos, apreciem a grande forma de tocar o ser que a música espira.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Link PARA TODOS


Eu tenho usado alguns textos, sendo que todos são PDF ou JPG. Eu baixei tudo na grande rede, e estou dando o link das obras em uma pasta no 4Shared. Está tudo lá. As explicações do tema central (Anime e História em Quadrinho) foram retiradas de minha tese monográfica, que também está lá.  Bom proveito.

http://www.4shared.com/account/home.jsp#dir=iYEYR46h

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Sonho ou Loucura para NORTON I



Neil Gaiman é um expoente escritor no mundo, e isso se deve muito pelo sucesso de Sandman. O Sonho dos Perpétuos é uma representação antropomórfica da habilidade inata de sonhar dos humanos. Quando fechamos os olhos e imaginamos grandes asas que nos faz voar, ou quando nos atiramos de um grande edifício em um pesadelo recorrente, é no mundo de Sandman que caminhamos (ou nos atiramos, para condizer com o relato). O sonhar é o reino de Sandman. Ele tem imensos poderes, mas esses poderes são apenas usados para a humanidade criar, sonhar com algo sempre maior.
Na edição 31 de Sandman – Três Setembros e Um Janeiro, entramos em contato com a história de Norton I, o primeiro e único imperador dos Estados Unidos da América. Instigado pela irmã Desespero, Sonho coloca na mente de Norton a ideia de proclamar-se o imperador daquele país. Isso deveria permitir que Norton nunca caísse em desespero, nunca tivesse desejo e não caísse em loucura até a sua morte. Um jogo de Sonho com seus outros irmãos. Em toda a trama, somos envolvidos pela ingenuidade de Norton I no mundo. Sua visão da sociedade humana carrega inocência, um frescor muito próximo de nossa infância. É uma fábula moderna.
Não muito diferente da Loucura de Erasmo. Em seu auto-proclamado elogio, a Loucura exemplifica as várias atitudes dos loucos como superior às atitudes dos homens ditos como sãos. Erasmo compreende a loucura como característica natural do homem, e sem ela, nada poderia existir. Veja um exemplo:

“(...) Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? (...) Ora, se me excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e, por conseguinte, de odiar a si mesmo.” (pág. 16)

É da natureza humana o amor próprio, e sendo ele um sentimento tão louco, é da natureza humana a loucura. Segundo esse argumento, o homem tem amor por si mesmo sendo o pior ser humano da terra. Claro que temos exemplos que desmitificam essa afirmação, pois se Hitler tivesse amor próprio no fim da guerra, não teria se suicidado. Isso é apenas um exemplo. Mas Erasmo diz que esses governantes não eram loucos, mas sim, amantes das artes e da filosofia.

“(...) Se consultardes os historiadores, verificareis, sem dúvida, que os príncipes mais nocivos à república foram os que amaram as letras e a filosofia.” (pág. 18)

Voltando aos quadrinhos. Norton I, em um diálogo com o Rei da Dor, expõe que nunca teve ambições. Seu subalterno Ah How descreve uma prisão de Norton, e a fala do juiz na sua soltura: “O senhor Norton não derramou sangue algum, não roubou ninguém e não pilhou nenhum país. O que é mais do que pode ser dito da maioria dos sujeitos do ramo de rei.” Um rei sem ambição já pode ser dito como um bom rei. E um rei sem ambição é um rei louco.

“Todos vós estais convencidos, por exemplo, de que um rei, além de muito rico, é o senhor dos seus súditos. Mas, se ele tiver no peito um coração brutal, se for insaciável na sua cobiça, se nunca se mostrar satisfeito com o que possui, não concordareis comigo que é miserabilíssimo? Se ele se deixar transportar por seus vícios e por suas paixões, não se tornará um dos escravos mais vis?.” (pág. 29)

Neste aspecto, a loucura é a única forma de sermos felizes. A loucura nos mostra a verdade. Todo o louco é verdadeiro, mesmo não sendo levando a sério.

“(...) Os meus loucos (...) têm uma vida totalmente oposta [a dos sábios] e observam, para com os príncipes, todas as maneiras que mais costumam agradar, divertindo os outros com mil chacotas e bobagens, com ditos satíricos, com caretas e disparates de fazer qualquer pessoa rebentar de riso. Notai, de passagem, o privilégio que têm os bobos de poder falar com toda a sinceridade e franqueza. Haverá coisa mais louvável do que a verdade?” (pág. 27)


Nos quadrinhos, Sonho e Delírio conversam se Norton I ainda é uma pessoa sã. O diálogo seguinte, entre Norton e Mark Twain, Norton confidência o seguinte: “As pessoas riem de mim... sabia, Sam?
- Você não se importa com isso, majestade?
- E por que deveria, Sam? Deixem que riam. Ainda sou o imperador.” (pág. 12)


A loucura nos mantém sãos; a loucura nos mantém verdadeiros. Isso é ilógico, mas a vida também demonstra incongruências. A vida é uma constante loucura, e a loucura que permite a felicidade. Erasmo tem uma certa razão neste assunto. Necessitamos de certa loucura para não cair em loucura. Esse diálogo demonstrou coisas que os homens tentam esconder, mas que sempre iremos carregar conosco: nosso verdadeiro ser.

HISTÓRIA EM QUADRINHO


História em quadrinho é um contar histórias com as imagens. Elas estão presentes nos jornais, em formas de tiras diárias, ou em revistas que denominamos infantis ou infanto-juvenis. Fazem parte de nosso imaginário, de nosso mundo. São fontes de lazer e entretenimento, assim como a literatura, e como ela, nós fugimos do cotidiano para entrar em outro mundo, repleto de novas histórias e grandes personagens. Essa aproximação com a literatura mostra uma arte com características parecidas, mas que carrega também diferenças básicas.
O método para contar a história segue uma dinâmica diferente, pois as histórias em quadrinhos não precisam relatar os movimentos dos personagens, já que fica explicito na imagem que o segue. O falar, pensar, a raiva, alegria, o choro, o barulho, tudo isso tem uma forma imagética de se mostrar. Uma descrição de um evento pode ter uma grande quantidade de paginas para sua feitura pela literatura, mas uma única página de história em quadrinho poderia suprimir o tempo para o entendimento, dando uma entrada mais rápida do leitor naquilo que ele busca compreender (aqui poderíamos pensar se essa entrada na história, realizada pelo quadrinho, pode ser tão profunda quanto a literatura, mas vamos deixar isso pra mais tarde).
O aparecimento das artes gráficas na Europa, unindo ilustração e texto, pode ser chamado de a origem das histórias em quadrinhos, mas sua popularização e autonomia só vieram mesmo nos Estados Unidos da América, no final do século XIX. É neste momento que aparecem as “comics”, ou seja, suplementos dos jornais daquela época. Era um caderno a parte, mas os jornais sentiram uma influência positiva nas suas vendas exatamente por esses suplementos. Na verdade, o momento em que as histórias em quadrinhos são consideradas um novo movimento de arte, uma nova Arte, é nos anos 30. Em meados dos anos 40, surge a primeira crítica a ela, feita pelo Doutor psiquiatra Frederic Wertham, na obra Sedução dos Inocentes, sofrendo por isso uma aversão nos meios acadêmicos. Na década seguinte, as histórias em quadrinhos assumem novamente seu lugar de destaque nos meios de comunicação, inspirando movimentos de arte da qual são nomeados de ‘pop-art’, e sendo valorizado como fonte de inspiração. Nesta época é que aparecem pela primeira vez os Super-Heróis, ou seja, vigilantes que protegem a população com seus poderes. São desta época os personagens: Super-Homem (personagem que veste as cores da bandeira americana e luta por esses ideais patrióticos), Batman, Capitão América (um soldado americano lutando contra os nazistas), Fantasma, Tocha Humana, Namor, Capitão Marvel, Lanterna Verde, etc. Não é a toa que essa época é chamada de “Era de Ouro” das histórias em quadrinhos, sendo o nacionalismo americano um dos temas centrais neles abordados.
Os quadrinhos abordam hoje assuntos cada vez mais complexos, desde o preconceito até a sexualidade e a vida em comunidade. Na contemporaneidade, as histórias em quadrinhos são consideradas uma obra de literatura, assim como o livro, e tem grande interesse e procura pelo público em geral, muito mais que seu antecessor literário. E como essa arte está em processo contínuo, as coisas relatadas tem ligação direta com o que vemos no mundo fenomênico atual.
As histórias em quadrinhos são um estande de visibilidade, que cativa o aluno assim como as balas e doces coloridos cativam as crianças. Esta forma de arte embeleza uma aula de filosofia, dando sentido à prática filosófica na vida. A maioria dos alunos, na atualidade, tem uma preferência pela leitura das histórias em quadrinhos, pois elas estão distribuídas não apenas nas bancas, mas também nos meios eletrônicos, como a internet, de forma totalmente gratuita.

Então, como poderemos trabalhar com as histórias em quadrinhos na sala de aula, envolvendo algum filósofo em sua discussão. Bem, começamos com um ilustre desconhecido das salas de aulas brasileiras, Erasmos de Rotterdam, com sua obra Elogio à Loucura, e um quadrinho muito conhecido, Sandman, de Neil Gaiman, mas precisamente, a edição 31 brasileira, ‘Três Setembros e Um Janeiro’.