A música, assim como o filme,
tem a mesma magia de tomar o ser para outro mundo. Mas com uma diferença. Ela
não mostra um mundo, ela faz o mundo ser sentido por nós. Quantas pessoas ficam
estáticas ao som de uma melodia que as remete ao passado?
O pensador Theodor Adorno
realizou grandes estudos envolvendo essa forma de arte, e incentivava seu uso
para a instrução do individuo. Como professores, podemos buscar essa arte como
meio para a filosofia se manifestar nos sentidos. Não digo que devemos pensar
como Adorno, que fazia elogio apenas para a música erudita, e menosprezava os
outros estilos, dizendo que era uma produção da indústria cultural para manter
o controle sobre a população. Toda a música pode ser usada em sala de aula,
pois toda a música é uma forma de sentir, toda a música é uma arte. Citando
Adorno, poderemos compreender perfeitamente o sentido da música.
(...)
a música constitui, ao mesmo tempo, a manifestação imediata do instinto humano
e a instância própria para o seu apaziguamento. Ela desperta a dança das
deusas, ressoa da flauta encantadora de Pã, brotando ao mesmo tempo da lira de
Orfeu, em torno da qual se congregam saciadas as diversas formas do instinto
humano. (ADORNO, 1983, pág. 165)
O professor poderá usar desta
arte para colocar seus alunos em contato com o seu ser, seus instintos, assim
como tocar o outro representado na música. Fica claro o poder libertador que
tem a música em nosso consciente, e isso pode ser uma nova forma fenomenológica
de ensinar a filosofia. Com uma letra de Chico Buarque de Holanda, como a
música “Filosofia”, temos a chance de
entrar na mente do autor, vivenciar seus medos, e através dela, também ver a
história da época em que foi criada.
A música também é uma aliada do
ensino, e assim como a arte, que a engloba, poderá tornar o jovem um sujeito
conhecedor desta disciplina, uma disciplina que agora busca seu lugar no
ensino, ao qual todos aqueles que a buscam não ficam incólume. Uma outra idéia
é buscar o dialogo entre todos os alunos através das músicas. Colocar o gosto
musical perante o grupo, assim como poderemos fazer com a literatura, será de
ajuda para a abertura de um dialogo sobre o julgamento do gosto. A obra Crítica do Juízo, de Immanuel Kant
poderá ser aplicada junto com os alunos como uma linha mestra das discussões,
tornado este estudo parte de suas vivências. Também poderemos usar as obras da
escola de Frankfurt, chegando a uma concepção do estético em comunhão com os
alunos. Assim, vislumbraremos a miscigenação que a música cria na sociedade,
assim como a separação que ela implica. Os problemas causados com a música no
processo da vivência, onde o outro é o diferente, termina por criar barreiras
entre os homens.
A música como forma de tocar os
sentidos, é uma forma fenomenológica de atingir o conhecimento, mostrando um
sujeito participante deste saber.
(...)
Todo o saber se instala nos horizontes abertos pela percepção. (...) O sujeito
da percepção permanecerá ignorado enquanto não soubermos evitar a alternativa
do natural e do naturante da sensação como estado de consciência e como
consciência de um estado, da existência em si e da existência para si.
Retomemos pois à sensação e olhemo-la de tão perto que ela nos ensine a relação
viva daquele que percebe com seu corpo e com o mundo. (MERLEAU-PONTY, 1971,
pág. 214-215)
Esta aura que é percebida nas
artes faz com que toquemos nosso ser. Amadeus Mozart procurava, com sua obra
musical, atingir o divino. Ele é considerado o quinto Evangelista, pelo poder
que suas músicas tem de nos tomar para a visão de Deus. Esta forma de atingir
os sentidos pela música também mostra o poder que o corpo tem de atingir o
conhecimento. Platão bem sabia do poder da música para a alma. Junto a ele, poderemos
colocar Aristóteles, Hegel, Nietzsche, Schopennhauer, Adorno, e vários outros
grandes ícones da filosofia para que juntos, apreciem a grande forma de tocar o
ser que a música espira.
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