segunda-feira, 28 de abril de 2014

MAQUIAVEL e HOBBES se encontram em DEath NotE.


O anime Death Note foi produzido em 2006, pelo estúdio MadHouse, em cima do mangá escrito por Marsh. A história gira em torno de um caderno com a estranha capacidade de matar qualquer pessoa, sendo que o seu nome seja escrito nele. O caderno é encontrado por um estudante japonês chamado Light Yagami, que tem a estranha pretensão de matar criminosos para fazer uma justiça que conduza a sociedade para um caminho melhor.

Diferente dele aparece o investigador especial que se intitula unicamente de “L”. Sua visão de justiça se contrapõe de Light, pois para ele a justiça só está presente na lei do estado. “L” se torna o antagonista do Light, aquele que devota sua vida a encontrar o justiceiro ‘KIRA’, assim denominado pela sociedade que defende esses ideais. Light é Kira, e esse justiceiro deve ser levado à verdadeira justiça, segundo L.

Toda a história do anime poderia ser trabalhado nas aulas de filosofia, mas principalmente os temas envolvendo Ética. Aqui, descreverei um pouco o conceito de justiça, e onde ele se aplica nos personagens, seguindo dois grandes pensadores: Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, ou Nicolau Maquiavel, e Thomas Hobbes de Malmesbury.

Primeiro, vejamos a justiça de Maquiavel.

Em uma passagem do livro ‘Príncipe’, Maquiavel coloca a seguinte inscrição em latim: iustum enim est bellum quibus necessarium et pia arma ubi nulla nisi in armis spes est. (cáp. XXVI)Usando a ajuda do Google Tradutor, temos o seguinte: ‘pois a batalha é apenas quando ela é forçada sobre nós; braços onde não há esperança, exceto nos braços’. Não dá pra entender direito ainda através desta frase.

Mas, vejamos uma outra frase que poderá dar mais sentido ao pensamento maquiavélico: (...) Um Príncipe não deve, pois, temer a má fama de cruel, desde que por ela mantenha seus súditos unidos e leais, pois que, com mui poucos exemplos, ele será mais piedoso do que aqueles que, por excessiva piedade, deixam acontecer as desordens das quais resultam assassínios ou rapinagens: porque esses costumam prejudicar a comunidade inteira, enquanto aquelas execuções que emanam do príncipe atingem apenas um individuo. (cáp. XVII)

Maquiavel tem em mente a força da justiça amparada em braços de um príncipe poderoso. É exatamente o pensamento de Light, que se considera o novo ‘deus’ deste novo ‘mundo’, o mais poderoso ser da terra. Light é um pretenso governante maquiavélico.

Já o personagem ‘L’ se contrapõe ao futuro deus. Sua busca é de levar Kira à justiça humana. Essa justiça se fundamenta em leis produzidas pelo grupo social. O que nos leva a outro grande filósofo político. Thomas Hobbes.

A justiça hobbessiana pode ser descrita com o seguinte fragmento do Leviatã: “(...) Portanto a justiça, isto é, o cumprimento dos pactos, é uma regra da razão, pela qual somos proibidos de fazer todas as coisas que destroem a nossa vida, e por conseguinte é uma lei de natureza.” (Cáp. XV). Bem, isso não se contrapõe ao ato de Light, pois ele não arrisca sua vida.

Creio que teremos que ver outros fragmentos.

O pacto é uma maneira de manter os homens ligados pelo poder da palavra. E “(...) a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-los, e é também só aí que começa a haver propriedade.” (Cáp. XV).

Esta instituição é o poder do estado, o poder civil que é criado com a liberação de direitos naturais de cada ser humano para a vivência em sociedade, e o estado faz um pacto com cada ‘cidadão’ de manter a paz.

O estado define leis, e “(...) o roubo e a violência são injúrias feitas à pessoa do Estado” (Cáp. XV). É neste sentido que o estado pode punir. Com isso, ‘L’ tem o dever de manter esse pacto das leis, mandando o assassino serial a verdadeira justiça.

O anime passa por esta relação de justiças em um embate, pois nos colocamos ora em favor de Light e sua mudança social, e ora na busca de ‘L’ pela captura de Kira. A ideia de justiça em Maquiavel e Hobbes é apenas o pontapé inicial de discussão filosófica que esse anime proporciona. Muitas outras discussões poderão ser feitas, basta apenas deixar-se guiar na história.

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